quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

Só Preto sem preconceito musical



Só Preto Sem Preconceito, em alguma postagem eu falei isso, que esse nome era um dos nomes mais legais dos grupos de pagode,junto com Fundo de Quintal e Mé Maior. E musicalmente respondem a altura, sempre foram compositores, intérpretes e músicos de qualidade fazendo bons discos.

O grupo teve seu início em 1984 no Rio de Janeiro onde tocavam em barzinhos e depois das partidas de futebol. O nome era para ser Só Preto, mas consideraram muito agressivo, colocaram o Sem Preconceito para amenizar e ficou muito interessante. Teve a oportunidade de gravar pela primeira vez em 1986 numa coletânea da EMI a música era simplesmente Viola e Bandoleira. 



Curiosidades: O grupo teve a honra de ser indicado ao premio Sharp de melhor grupo de samba em 1991. Antes de entrar para o grupo Raça,  Delcio Luiz fez parte do Só Preto em 1987, mas não chegou a aparecer na capa. Onde compôs a bela Por Um Erro, sua primeira musica gravada! que foi sucesso nas rodas de samba e nas rádios. O integrante Nem do banjo faleceu logo depois da gravação do terceiro trabalho do grupo. Há relatos que foi numa briga em que ele entrou para defender uma pessoa e foi assassinado a tiros. A música Outra Viagem foi feita em sua homenagem.


O grupo  gravou belos discos ao longo da carreira, sempre com arranjos, harmonizações, melodias e letras de ótima qualidade. Qual pagodeiro nunca se viu cantando canções como Outra Viagem, Pano de Chão, Quem Tá Duro Reza Pra Chover,  É Tanta, Ponta de Dor, Coisa Mais Linda, Viola e Bandoleira, Insensatez, Pra Não Me Ver Chorar  e outras. Por conta disso, era um desafio para o grupo reproduzir a risca e ao vivo as gravações de alto nível dos discos, mas quando eles estavam com uma boa banda de retaguarda tiravam um bom som. A formação clássica do grupo foi com Cimar (tan-tan) , Paulinho (violão), Fernando Paz (repique), Reginaldo (pandeiro) e Nem (banjo). 


O blog  dimiliduques põe a disposição o trabalho gravado em 1993 intitulado Toque Mágico pela gravadora EMI-Odeon . Aqui os arranjos usaram bastante os teclados,  o repertório foi bem escolhido, que produtor não queria trabalhar com musicas criativas?. Para se destacar uma ou outra foi trabalhoso, mas usando meu gosto musical seriam: Toque Mágico (Lourenço/Paulinho), que tem uma crescente maravilhosa, Pra Não Me Ver Chorar (Fernando Paz/Mario Sergio), um dos mais bonitos pagodes já feitos até hoje na minha humilde opinião, Eu Não Vivo Sem Você (Pedrinho da Flor/Adalto Magalha) solo de teclado que hoje causa certo estranhamento, mas tem um clarinete bem malandro entremeando o arranjo e a pegada da musica é legal, Quem Tá Duro Reza Pra Chover (Ronaldo Barcellos/Lourenço), música com certo teor político e social sempre atual. Envolvente (Lourenço/Reginaldo) tem um toque de guitarra havaiana que encaixou bem, Favela (Serginho Meriti/Walmir Aragão) também tem um clima alto astral e a Olha Nós Aí De Novo (Luizinho SP/Carica) Carica e Luizinho sempre fizeram ótimas letras e essa é um exemplo.


Os arranjos foram divididos entre Jota Moraes (que também tocou teclados) e Ivan Paulo. Esse disco é o caso típico em que cada musica teve um trabalho individualizado em termos de músicos. Mas participaram por exemplo, Jorge Simas (violão), Gordinho (surdo), Paulinho Soares (cavaco), Paulinho da Aba (pandeiro), Milton Guedes (sax), Jayme Além (guitarra) e outros. No arquivo tem os encartes com a lista de cada musica. Na discografia do grupo encontrei 11 álbuns gravados:     Viola em Bandoleira – 1987, Menina da África 1988, A Coisa Mais Linda – 1989, Outra Viagem – 1991, Todos os Sentidos -1992, Toque Mágico – 1993, Chegou para abalar – 1995, O Quinto Segredo – 1996, Olha Nós Aí de Novo – 2000, Lua de Poeta – 2002 e Um Vencedor – 2010.

 Pra não ver chorar clique na capa e faça o download

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quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

A Cor do Samba de 1994



Tive a oportunidade de ouvir esse LP por inteiro só hoje (quando eu falo ouvir é OUVIR mesmo, com paciência e reparando nos detalhes e tal). Mesmo assim acho que devo ouvi-lo mais, pois tão belo é. Existem muitas gravações que acabam não alcançando o merecido espaço, conseguem adentrar nos corações de alguns, mas merecia muito mais. O grupo A Cor do Samba é um típico caso. . E que por uma inexplicável ação do acaso acaba ficando em segundo plano, ou mal divulgado ou problemas internos minam o grupo. 

Mas vamos falar um pouco do LP e do grupo: destaque para o violão de 7 cordas, bem acentuado e lindamente tocado, os sopros também deram um toque especial aos arranjos. Sabe aquele trabalho redondinho, bem tocado, bons arranjos, equilibrado mesmo, pois é aqui é um exemplo.  Pode ser até contraditório mas de certa forma revolucionário em pleno auge do pagode romântico paulistano o grupo A Cor do Samba gravar um disco puxado mais para a raiz. Só provou que a rapaziada teve personalidade. 

O grupo é oriundo da zona Norte de São Paulo, mais precisamente do bairro da Casa Verde. Gravou esse trabalho com o título de Forte Emoção em 1995, pela gravadora independente RCE Discos em parceria com a Velas. A produção e arregimentação ficou a cargo do componente do grupo, o músico Ademir (que também fez banjo). A orquestração e regência foram de Zé Barbeiro (também tocou violão de 6-7) e Miltinho (tocou cavaco). Os outros músicos escalados foram:  Naio Denay (banjo), Serginho (baixo), Rosemary Abensur (flautas), Alexandre Arruda (trombones), Stanley J. Carvalho (clarinetes), Giba (bateria), Chicão (tumbadora), Marcelo Alecrim e Jadir (surdo), Califa (surdo e complementos), Gazu (tan-tan),  Regis (ganzá e tan-tan),  João Sensação (pandeiro) ,  Marquinhos (tamborim e pandeiro), Giba (tamborim) e  Dona Celia, Simone Tobias e grupo A Cor do Samba (coral). Curiosidade é que o Jadir além de tocar o surdo é um dos melhores ases no estúdio e mixagem. 

As músicas são todas boas, composições e parcerias do próprio pessoal que formava o grupo e outros compositores, muita poesia e criatividade, vou destacar as que me chamaram mais a atenção: Forte Emoção (Edson/Wagner Santos), Medo de Amar (Ademir/Neckis e Nadão), Vizinho do Lado (Ademir/Nadão), Aquele Adeus (Ademir/Neckis/Nadão) , Pout Porri de partido “Bons Costumes” (Ademir/Wagner Santos/Edson) e uma super interessante chamada Vida do Aprender (Nadão) com uma introdução falada interpretando uma conversa como se fosse um menino de rua.

A formação do grupo era: Nadão, Ademir, Wagner, Edson , Marquinhos e Reginaldo. Todos ótimos músicos e compositores que fizeram parte do trabalho intimamente. Destaque lógico para a dupla Nadão (in memorian) e Ademir, que tem muitas composições com outros grupos de samba do Rio de Janeiro e São Paulo e também na escola de samba Vai-Vai. Para se ter uma ideia eles são compositores de um dos sambas mais executados nas rodas de samba, Menina de Aruanda, gravado pela primeira vez em 1987 pelo grupo Samba Lá de Casa e regravado inúmeras vezes por outros intérpretes. Ademir também fez sambas para as escolas de samba Unidos do Peruche, Rosas de Ouro , Mocidade Alegre e até de uma escola no Japão, a Bárbaros de Tóquio. Foi parceiro com Luizinho SP e Edson do partido O Filho do Quitandeiro sucesso gravado pela dupla Arlindo Cruz e Sombrinha.

Obs : Há na ripagem do LP algumas faixa riscadas, mas nada que atrapalhe o contexto e a análise musical.
Agradecimentos a comunidade Bandeira do Samba no Facebook.

Clique na capa e pinte e borde com a cor do samba 



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sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

A Tulipa Negra do Samba: Bernadete

Bernadete eis um nome que chama a atenção; é derivado de Bernardo? enfim o caso aqui não é a origem do nome mas a musicalidade. Pois é Bernadete (sem o “R”) e eu pensava erroneamente que a pronúncia era BernaRdete. Ela teve seu início como interprete em meados da década de 80 na Escola de samba Império Lapeano, na Vila Leopoldina em São Paulo. A cantora tem o carinhoso apelido de Tulipa Negra do Samba, em 1990 ensaiou no Unidos do Peruche, pois a intérprete oficial, Eliana de Lima estava gravida e Bernadete iria ficar ali acompanhando-a e caso necessário a cobriria. 

Mas foi no carnaval de 1991 que teve sua melhor chance, já que Eliana havia dado a luz a sua filha bem no dia do desfile. Assim Bernadete além de ter interpretado o sugestivo samba enredo de 1991 “Quem não arrisca não petisca”, ela foi uma das primeiras mulheres a cantar no Sambódromo do Anhembi ganhando nesse ano o Estandarte de Ouro como melhor interprete. Ficou nesse posto no Peruche até 1993 e no ano seguinte foi para a Escola de Samba Barroca Zona Sul e 1995 foi para a Império da Casa Verde.

Foi convidada por Gleides Xavier e Bene Alves para participar em 1991, da coletânea da Band FM pela gravadora RGE, chamada Band Brasil 3, com a faixa Farsa do Amor (Benê Alves). E em 1994 na mesma coletânea no volume 4, participou com outros artistas da musica Tudo Por Uma Criança (Benê Alves).

Seu trabalho solo intitulado Jogo da Vida, saiu em 1992 pela gravadora independente Chic Show/Five Star. Importante frisar aqui que as fotos da capa foram feitas por um dos mais requisitados fotógrafos da indústria fonográfica, Aki Morechita (1934-1998). O trabalho teve os arranjos musicais do Maestro Jobam (que também tocou violão) e no time de músicos convidados: Mario Testoni (teclados), Biro do Cavaco (cavaco e banjo), Breno Katinguelê (violão de 7 cordas), Fabio Canela (baixo), Toca Martins (bateria), Fredy (percussão geral e surdo), Brucutu (congas), Laércio da costa (percussão geral), Mokita (pandeiro) e Naná , Nenê e Rubem (coral). Os arranjos são simples mas bem tocados, aquela tríade que fez muito sucesso com teclado, baixo e bateria. Destaco as músicas Jogo da Vida (Silva e Marinheiro), Promessas (Silva e Marinheiro), Eu Quero (Dhema e Itamaraka), Mudança (Boca Nervosa) e o partido Facho de Luz (Zeca Sereno).

A cantora Bernadete ainda continua fazendo seus shows, participando de homenagens e projetos musicais como o Mosaico da TV Cultura onde participou do programa A Arte de Dona Ivone Lara. 


Clique na capa e escute



quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

Samba, Afoxé, religião e negritude

Sempre me chamou a atenção nos trabalhos de sambistas um ritmo chamado Afoxé, quer dizer pelo menos era por essa nomenclatura que eu conhecia nas rodas de samba. Sem contar que afoxé é também um instrumento usado para tocar o samba. Na maioria das vezes era uma faixazinha ali escondida no lado B. Essas gravações foram rareando, mas alguns sambistas deixaram seu registro. 

No começo da década de 90 alguns grupos do chamado pagode, tiveram o bom gosto de incluir em seus trabalhos. Os temas eram a maioria ligada à espiritualidade e religião ou a negritude brasileiro-africana. Nessa coletânea que o blog dimiliduques fez, tem Arlindo Cruz, Fundo de Quintal, Grupo Arte Final, Grupo Chora Menino, Grupo Exaltasamba, Nei Lopes, Grupo Raça,  Leci Brandão e mais. 

Outros exemplos: tem uma gravação da rede Globo de 1987  que fez  como o “We Are The World” e reuniu várias personalidades negras para festejarem o centenário de 100 anos da abolição com um afoxé, Axé Pra Todo Mundo. Outra versão interessante remonta aos primórdios da axé music em 1990, do compositor baiano Gerônimo, a música D’ Oxum, que também foi gravada por Gal Costa, Daniela Mercury, Jauperi, Maria Bethânia, Margareth Menezes e outros.

Gosto muito do ritmo, é uma pegada diferente com influências diversas como maracatu, candomblé, maxixe, samba, musica caribenha, cubana... ou seja é uma miscigenação de sons. Foquei-me mais nas gravações feitas por sambistas e grupos de pagode, mas coloquei duas faixas bônus (as citadas rede Globo e Gerônimo).



Clique na capa, escute e relaxe, axé.






Clique abaixo para visualizar a lista de músicas.




Aqui disponível para escutar no youtube

Volume 1


Volume 2





quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

O novo sempre vence



Um artista novo! hoje em tempos de barateamento e acesso fácil aos mecanismos de divulgação, tem muita gente perdida no limo alternativo. Cabe ao púbico e principalmente outros músicos e jornalistas musicais reconhecerem talentos natos que não podem ficar perdidos em meio a avalanche de informação cibernética. Liniker é um caso muito emblemático. Difícil não reconhecer profusão de arte ao ouvi-lo. E olha que aqui há um ingrediente atualíssimo, ou seja não basta ouvir, interessante e até chocante para alguns quando as imagens ”clipais” são vistas (procure no youtube). 

Gostei muito, da música, da voz e do estilo de certa forma transgressor e moldado/antenado com as novas tendências psico-humanas em se tratando de gênero. É ou não é? não interessa quando a música transcende. Nas redes sociais até comentei num post que a formação da banda lembrava o Isca de Polícia com o saudoso Itamar Assumpção, mas foi apenas uma visão que veio a mente na hora.  

Liniker nasceu em 1995 e é de Araraquara-SP. Nesse EP “Cru” lançado pelo site da produtora Vulkania em outubro desse ano, temos três pedradas: Zero , Louise du Brésil e Caeu. Todas inspiradíssimas, com pitadas de jazz e soul music. O EP precede o álbum que se chamará provisoriamente de Remonta. Empolgação a parte, se depender da musicalidade vai ser sucesso na cena independente,  turnê internacional e inevitavelmente para os programas Altas Horas, Fantástico e outros canais. Viagem minha: será que o canal do Edir Macedo se permitirá ou se omitirá ao jeito Liniker num futuro próximo?.





terça-feira, 15 de dezembro de 2015

Então é natal

Natalinos de plantão...brincadeira, mas dezembro é um dos meses que mais gosto. Você vê no rosto das pessoas um pouco mais de empolgação, seja para atravessar o farol ou andando mais depressa para adiantar os presentes. Já fica um clima no ar, as luzes, as árvores, os enfeites e os papais Noel (ou seria Noéis?) alegrando (e assustando também) as criancinhas nos shoppings. 
Outra coisa importante é o som! é...porque os ouvidos são invadidos por músicas natalinas pelas ruas, lojas,casas. Engraçado que nunca ouvi som alto de carro com esse tipo de musica... Mas essa trilha sonora clichê as vezes é imprescindível...nas ceias de natal que a Dona Dina (minha mãe) faz, sempre rola um vinilzão de natal do Nito Del Carmen e sua harpa. A mesa , a árvore, os comes e bebes são preparados com o maior zelo e carinho por ela. Ela sempre diz: peru tem que ser no natal, porque se comer no ano novo é azar e atraso de vida, pois é um bicho que cisca para traz , já o porco não, ele "focinha" pra frente, é progresso,  então esse é comida de ano novo (teoria mais maluca que eu sigo a risca!). Então o blog dimiliduques deseja um bom natal e dá de presente a trilha sonora. Um clássico natalino! o LP Simplesmente Natal, citado aqui no texto, datado de 1981 que saiu pelas gravadoras Japoti e também pela Beverly. 

http://www.mediafire.com/download/sx0h56lb6zssxbh/Nito+del+Carmen+-+Simplesmente+Natal.rar

terça-feira, 17 de novembro de 2015

AGP um bom samba que merecia mais atenção


Seu nome verdadeiro era Antônio Gilson Porfírio, as iniciais formando a alcunha “AGP” e nasceu em 18 de agosto de 1942 no Rio de Janeiro. Agepê foi um daqueles artistas bem populares entre o povão, mas que também era ignorado por boa parte da mídia especializada. Estilo simples, leve, solto e com um bigode peculiar. Foi um artista que teve sua primeira gravação em 1974, no lançamento do compacto pela gravadora Continental que continha no Lado A, Todo Prosa (Agepê/Canário) e no Lado B o sucesso Moro Onde Não Moro Ninguém (Agepê/Canário), também regravado pelo cantor Wando. Outra que “estourou nas paradas” foi a Deixa Eu Te Amar (Agepê/Mauro Silva e Camillo) do LP Mistura Brasileira (1984/Som Livre), a música foi até trilha de novela global (Vereda Tropical). Aliás esse disco foi um dos primeiros discos de samba a alcançar a vendagem de mais de um milhão de cópias vendidas.

Agepê tinha uma voz marcante se apoiando em bons graves metálicos e alcançava alguns tons mais altos, digamos um barítono. Foi integrante da ala de compositores da escola de samba Portela. Na década de 80 frequentou as rodas de samba do Cacique de Ramos e outros pagodes, na companhia de Beto Sem Braço, Pedrinho da Flor, Zeca Pagodinho e outros anfitriões. Certa vez conversando com Luiz Ayrão ele me contou que alguns fãs do Agepê o confundiam e elogiavam “aquela música” Menina dos Cabelos Longos (Agepê/Canário). Agepê tinha muitos sucessos como Me Leva (Toninho Geraes/Serginho Beagá),  Moça Criança (Agepê/Canário) e até a famosa Cama, Mesa e Banho de Roberto e Erasmo Carlos.

O blog dimiliduques coloca a disposição o LP de 1986, sem título, que saiu pela gravadora Som Livre/CBS. É um disco que para analisar eu tive que fazer quatro audições. De um disco que eu não gostei na primeira vez que escutei por inteiro, até escrevi demais, mas ele tem sim sua beleza. A primeira vista parece mais um disco do Agepê, pois a sonoridade dos arranjos é semelhante entre as faixas. O cavaco com uma pegada padrão e bem a frente da percussão e a cuíca sempre se fazendo presente. As melodias das músicas também a primeira audição parecem seguir a mesma linha harmônica. Então eis a pegadinha, para sentir melhor o trabalho, precisa-se se escutar com um pouco mais de sensibilidade e atenção, só assim consegue-se ouvir as nuances. Daí descobre-se o encanto e se vê que é um bom disco de samba. Boa afinação de voz do Agepê, numa época em que era na raça, sem pro-tools e afins. 

A produção foi de Rildo Hora com direção artística de Max Pierre. A seleção de repertório é do próprio Agepê e do seu fiel companheiro em várias composições, Canário. Era eclético, gravava enredo, partido alto, mas seu estilo marcante era o de sambas mais românticos e até de certa forma eróticos. Destaque para algumas faixas desse LP como A Rainha Ginga (Romildo/Sergio Fonseca), que me remeteu a cantora Clara Nunes. Errado Fui Eu (Agepê/Beto Correa) que fala: “andava solto pelas madrugadas, muitas cervas geladas, muitos pagodes curti...”. O Samba é Minha Cachaça (Beto Correa/Edu), pegada rápida com belos tamborins e caixas. De Todas As Formas (Agepê/Zé Catimba/Canário) umas dos carros chefes do disco e Lindo é Você Ser a Minha Mulher (Zé Catimba/Geraldo do Norte), “...ser domado como escravo, ser tratado de senhor, de caçar e ser a caça feito a caça e caçador...” uma letra bem feita, mas que hoje poderia até ser censurada pelos politicamente caretas das redes sociais. Inspiração (Agepê/Canário/Chiquinho Fabiano) também é bem dançante , solos de cavaco que relembram os pagodes oitentistas.

A faixa A Lenda da Estrela do Mar (Edil Pacheco/Paulo Cesar Pinheiro) lembra os “sambas de mar” feitos por Nelson Rufino e Roque Ferreira, é uma pegada meio afoxé. Outra faceta interessante dos discos dele é a do forró e baião, gravados com muita propriedade. É o caso de Dançando Forró (Agepê/Canário/Pery Cachoeira), o nome já diz qual é o ritmo, bem tocado e com uma sanfona maneira. No livro de Nei Lopes – Partido Alto Samba de Bamba, se teoriza um pouco sobre os porquês do baião, xote, repente, forró e calango serem tão fortes e presentes na cultura carioca. É que os migrantes das regiões do nordeste para os morros do Rio de Janeiro no início do século XX traziam consigo essa musicalidade com pandeiro,zabumba e sanfona. O produtor Milton Manhães gravou em 1991 um disco só nessa temática, por sinal muito bom.

Sua discografia conta com 15 LP's gravados: Moro Onde Não Mora Ninguém (1975/Continental), Agepê (1977/ Continental), Canto De Esperança (1978/Discos CBS), Tipo Exportação (1978/ Continental),Agepê (1979/CBS), Agepê(1981/CBS), Mistura Brasileira (1984/Som Livre), Agepê (1985/ Som Livre), Agepê (1986/ Som Livre), Agepê (1987/Philips), Canto Pra Gente Cantar (1988/Philips), Agepê (1990/Philips), Cultura Popular (1990/Philips), Me Leva (1992/Philips) e Feliz Da Vida (1994/Warner/Continental).  Agepê infelizmente foi vítima de cirrose aos 53 anos de idade, no dia 30 do mesmo mês do seu nascimento, agosto, de 1995.  


Obs: Agradecendo de antemão pois o disco foi baixado do acervo do site www.sintoniamusikal.blogspot.com.br

Clique na capa e reviva Agepê