De um sambista que
trazia pagode até no sobrenome artístico. O carioca de Irajá que já foi
anotador de jogo do bicho, feirante, camelô e foi batizado como Jessé Gomes da
Silva Filho é simplesmente Zeca Pagodinho. Aliás o nome provém de uma ala do
bloco Boêmios de Irajá, que se chamava Ala do pagodinho”. Zeca desfilava nessa
ala com 13/14 anos de idade. Quando em 1982 Zeca se juntou com o flautista Claudio
Camunguelo para participarem do Fest Samba na Portela. Procuravam um nome para
Zeca, que na família era conhecido como Seca, tentaram Zeca Silva, Jessé Silva,
Seca Silva... Até que quando desciam do ônibus alguém reconheceu Zeca e gritou
, “fala pagodinho!” Camunguelo gostou do nome e sugeriu.
No seu primeiro LP solo
de 1986 (RGE) ele lançou sambas que ficariam para sempre nas lembranças dos
pagodeiros de plantão. Sobre esse entrevero do que é samba e o que é pagode;
que eu saiba pagode é festança ou reunião de sambistas para tocar o samba,
porém a mídia massificou e nos anos noventa pagode já era conhecido com um
gênero musical. Pagodeiro era aquele que freqüentava os pagodes ou seja um
festeiro ou boêmio. Mas no caso de Zeca ele é sambista nato, afilhado de Beth
Carvalho e escolado nas melhores rodas de samba do Rio de Janeiro, dos morros à
tamarineira do Cacique de Ramos. O repertório desse disco é daqueles em que
arranjos, musicalidade, inspiração e artista se fundem em algo maior. Desponta
o que há de melhor e marca o estilo e a sonoridade de uma geração de sambistas,
tais como o Grupo Fundo de Quintal, Nei Lopes, Roberto Ribeiro, Pedrinho da
Flor, Wilson Moreira, Almir Guineto, Jovelina Pérola Negra, Luiz Carlos da Vila
e outros. Sua primeira gravação foi uma participação na música Camarão que
Dorme a Onda Leva em 1983 no disco Suor
no Rosto de Beth Carvalho. Um ano
antes ele ainda participou da coletânea “Raça Brasileira" interpretando as
músicas "Mal de Amor", "Garrafeiro", "A Vaca" e
"Bagaço da Laranja".
O blog dimiliduques
coloca pra vocês o disco de 1986, lançado pela gravadora RGE, que é recheado de sucessos. Sambas que cairam
na boca do povo na primeira audição e foram as mais pedidas nas rodas de samba
e ondas do rádio no Brasil. O disco vendeu mais de um milhão de cópias e se
tornou uma referência com seu repertório ímpar. A produção foi de Milton
Manhães e os arranjos foram de Mauro Diniz e Ivan Paulo. A curiosidade é que na
contracapa do disco não consta os músicos participantes, tem uma carta de apresentação
de Arlindo Cruz e agradecimentos a “Força nos trabalhos” da Tendinha da Dona
Maria e Irene.
Já começa pelo partido SPC parceria dele com seu compadre
Arlindo Cruz, uma letra em que duas pessoas se separam mas uma continua pegando
no pé da outra e a ameaça para o desenrolo do caso é a de sujar o nome no
Serviço de Proteção ao Crédito. Segue
com Coração em Desalinho a já famosa
composição regravada por Maria Rita é de Monarco e Ratinho ambos da velha
guarda da escola de samba Portela. De Nei Lopes e Sereno (integrante do Fundo
de Quintal) tem a Jogo de Caipira dos
versos botecos filosóficos e rimas com jargões do jogo do bicho “Toda vida é o
começo da morte, todo azar é o inverso da sorte” e “Se a velhice um dia foi
criança...”. Outra faixa que é bem poética é a Se eu for falar de tristeza de Zeca Pagodinho e seu primo Beto Gago
onde diz “Se hoje estou cheio de vida, amanhã também posso morrer, se hoje dei
um beijo novo, amanhã também posso esquecer...” A faixa Quando eu contar Iáiá da dupla Serginho Meriti e Beto Sem Braço é
uma das que estouraram o refrão “...Iáiá, ô Iáiá minha preta não sabe o que eu
sei, o que vi nos lugares onde andei...”.
Cheiro
de Saudade de Sereno e Mauro Diniz é uma linda canção e é a mais romântica
do disco onde ele divide os vocais com Ana Clara, de voz muito bonita. O termo
francês pout porri (mistura de
pétalas num vaso para perfumar o ambiente) é musicalmente conhecido como medley ou uma seleção de músicas e esse
é arrebatador com: Hei de guardar teu
nome/Vou te deixar no sereno/Macumba da nêga aqui participação de Deni Lima.
A música Casal Sem Vergonha de
autoria de Acyr Marques e seu irmão Arlindo Cruz, outra que virou um grande
sucesso. Quintal do Céu é outra bela
melodia que começa com o clássico verso conhecido dos pagodeiros “um bangalô o
mais lindo canto da cidade...”. Cidade do
Pé Junto fala de uma saudade que mata “mas a saudade que eu sinto de você
meu grande amor vai me levar, pra cidade do pé junto... ” E para finalizar no
melhor estilo, mais duas que foram sucessos e regravadas tempos depois; Judia de Mim (Zeca Pagodinho e Wilson
Moreira) e Brincadeira Tem Hora (Zeca
Pagodinho e Beto Sem Braço) que mostram que Zeca também era letrista de
primeira. O disco é um dos melhores já gravados, esse é daqueles onde se pode
deixar tocá-lo inteiro tranquilamente num churrasco, no toca discos ou numa roda de amigos.
Clique na capa e saia sambando