Um disco para ser lembrado, além
de ser bom tem que guardar um pouco de história e memória. E o disco Eterno
Amanhecer do grupo Exaltasamba tem um pouco disso. O grupo foi formado em São
Bernardo do Campo-SP em meados de 1986. E tocava em várias casas de São Paulo e
ABC, tais como Casablanca, Auge Bar, Club House, Viva Brasil, Sambarylove, Contratempos
Bar, Só Pra Contrariar, JB Sambar, Andanças Bar, Choppapo e outros. A primeira
gravação foi em 1991 na coletânea do Choppapo com a música Deixa Como Está (Juninho/Niltão /Dal).
Em 1992 lançou seu primeiro trabalho solo pela gravadora Ritmo Quente/Kaskata´s. Já começa por aí, a Kaskata´s também
esta inserida no movimento do “pagode noventista” e da musica black em São Paulo. E para a
época, tudo era descoberta, com os arranjos feitos na raça, no talento e na
inspiração. Pessoas simples das periferias compondo, tocando e fazendo suas
músicas. E o melhor , criando sem querer um movimento e tendo apoio do público.
Mas poucos tem a consciência que foi grande a quantidade de pessoas carentes ,
principalmente jovens, que tiveram seu primeiro contato com a música através do
gênero. Já que nas escolas públicas não há ensino musical. Conheço muito músico bom que começou no pagode ou que pelo menos fez
parte por um tempo das bandas de apoio. Só para citar: Bocão, Laércio da Costa, Walmir
Borges e Edu Peixe.
Depois o apoio veio um pouco a
contragosto da mídia televisiva e escrita, responsáveis indiretamente pelo rótulo pagode ainda nos anos 80. O país vivia a euforia do plano Real, as
gravadoras grandes viram uma mina de ouro e as rádios deram o aval. Até
revistas como a Ginga Brasil e Cavaco tinham boas vendagens onde eram publicados matérias sobre os artistas dessa vertente e os
acordes das músicas.
Mas a prova de que o pagode foi
algo espontâneo é que, até hoje, há reflexos musicais e uma certa resistência com a formação de novos grupos. O movimento teve seu início na metade dos anos oitenta e a década de noventa como uma
espécie de era de ouro. Virou mania e teve seu momento de saturação/transição
com a famosa peneira natural, onde ficaram aqueles que realmente tocavam bem ou tinham um bom público. Até
mesmo nas rodas de samba se notou a evolução. O que antes era feito com somente com uma
caixa acústica, com cavaco e voz, em um certo auge foi feito com violão ,
cavaco, instrumentos de percussão "microfonados", mesa de inúmeros canais, várias caixas
acústicas e outras aparelhagens. Alguns grupos colocavam, até em roda de samba, músicos tocando bateria, contra baixo e
teclados, esses apetrechos todos ainda são usados mas somente em shows maiores
e em palcos. Hoje uma boa roda de samba tem cavaco, banjo, violão e percussão,
mas a herança dos microfones continua...
Voltemos a falar do LP que o blog
dimiliduques faz a postagem. Um disco bem legal, gravado no estúdio Cameratti em São Paulo. Soa cru e ao mesmo tempo
tem um certo lirismo. A começar pela música título, Eterno Amanhecer, belíssima
composição de Péricles, passando pela Luz do Meu Pensar de Cleber Augusto/Djalma
Falcão. Tem a bem conhecida Quero Sentir de Novo de Péricles/Juninho (esse
último tocava banjo no grupo Katinguelê grupo que tem o irmão do Péricles , o Breno do violão). Por Um Amor Tão Lindo (Lula/Luiz Pintor/Jairo) é também bem
romântica numa cadência bem lenta. Sem esquecer as faixas, Bem Súbito (Péricles) e Cartilha
do Amor (Royce do Cavaco/Paulo Onça) essa com participação de Royce do Cavaco. Músicas que foram bem executadas nas
rádios. Tem dois estilos que foram muito usados nos primeiros trabalhos dos
grupos; eram os pout-pourris e os sambas-afoxé (esse último atualmente é raro ver alguém
gravar). Chuva Danada/Canavial de Juninho/Salgadinho/Dal/Vicente/Carica é um
exemplo de pout-porri e a faixa Angola Nagô (Lula/Luiz Pintor/Jairo) um samba-afoxé. Tem o partido
alto Firma Teu Cavalo de Marquinhos Satã/Mario Sergio/Adilson Guedes, enfim, um
bom disco.
No cast de músicos temos os arranjos de Maestro Jobam que também
tocou violão de 6, Luizinho 7 Cordas e Breno no violão de 7 cordas, Brilhantina
no cavaco, Mario Testoni Jr. nos teclados, Breno e Pericles no banjo, Fabio
Canela no contrabaixo, Toca Martins bateria, Freddy no surdo, Theo na percussão
geral, Brucutu nas congas, Mokita, Tortinho e Serginho no pandeiro e Pinha no
repique. Note que os componentes do grupo também tinham qualidade e participavam
das gravações em estúdio , aqui o coral foi feito pelo grupo Exaltasamba. O
grupo nesse primeiro trabalho era formado por Péricles (violão de 6/7 e vocal),Pinha
(repique), Celo (tamborim e vocal), Brilhantina (cavaco), Tortinho (pandeiro e
vocal), Theo (bateria) e Marquinhos (tantã e vocal).
No segundo disco a formação mudou e saíram Tortinho e Celo e teve a entrada de Chrigor no
vocal e Izaías no violão em 1994. Em 2001 Marquinhos saiu e em 2002 foi a vez
de Chrigor e em 2006 Izaías também deixou o grupo. Thiaguinho assumiu os vocais
em 2003 dando um novo pique ao grupo e fazendo-o chegar aos mais jovens. Em
2012 o grupo entrou em recesso e parou de tocar, mas seus componentes continuam
envolvidos com o pagode. O Exaltasamba conta em sua discografia com 18
trabalhos e além desse Eterno Amanhecer eu sugiro que escutem Encanto (1994) e
Luz do Desejo (1996) esses dois ótimos, mas também vale a pena escutar o
Desliga e Vem (1997), Cartão Postal (1998), Mais Uma Vez (2000) e Bons Momentos
(2001), da nova fase vale destacar o Ao vivo de 2002, Alegrando a Massa (2003)
e Esquema Novo (2005).
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