Mamelo Sound System, taí um grupo
underground. E só fera ou como disse uma vez o RZO “quem é é quem não é cabelo
avoa”. Rodrigo Brandão e Lurdez Da Luz,
só nessas duas cabezas já se tem um caldeirão de ideias. A caminhada já vem
desde 1998 . Rodrigo já trampou como VJ, mas sempre envolvido com o rap de
qualidade, principalmente os mais desconhecidos.
No meio do rap mais “povão” o
Mamelo passa incompreendido, meio obscuro, diriam as boas línguas: moderno
demais. Nada daqueles versos de ladrão, tiros e balas a esmo (não que eu seja
contra). As rimas são mais urbanas, quantas vezes me peguei de fone de ouvido
viajando nas rimas e dando um rolê no centro
de sampa. Sei lá parecia às vezes trilha sonora (a faixa Vô q Vô é uma delas), para os edifícios, pontes, esquinas,
grafites, galerias e cannabis sativa na mente...
O CD que o blog dimiliduques
posta aqui é o Velha Guarda 22 e foi lançado em 2006 pela gravadora Yb. A capa é uma pista do que vem, o desenho, um
misto de índio/africano em grafite e o nome do grupo em fontes tiradas da
pichação. Gosto muito da música Morte e
Vida Pequenina, bem intima e com certa melancolia.
Não sei porque sinto algo Beastie
Boys, Pharcyde, meio Digable Planets
permeando o som, mas deve ser impressão nostálgica mesmo. O bate bola da dupla
no boom-bap é outro ponto forte, entrosados como Jorge Ben e seu violão. As
vezes da para reconhecer referências e fragmentos de rap nacional, como
Racionais e Duck Jam/Nação Hip Hop.
É um trampo sincero, rebelde,
conciso, nada de instrumentais comuns. E tem na produção Scott Hizard , que já
trabalhou com De La Soul, Jungle Brothers, Brand Nubian e outros. Mas tem
também os dedos e mãos de outros parças, como Jorge Du Peixe, Lucio Maia,
Dengue, Gustavo da Lua, Tejo Damasceno,
Rica Amabis...
O flow muitas vezes é daqueles
dos primórdios dos anos 90, na batida, outras vezes tem style próprio (vide a faixa Bença,
Balanço e Chumbo Grosso). Som urbano, mas em busca de uma brasilidade
perdida em atabaques e batuques que poderiam vir de um Naná Vasconcelos ou de
um terreiro de macumba nos confins de um bairro paulistano qualquer. Sintetizadores, beats e guitarras, couro e
metal tecnológico.
A formação hoje conta com Lurdez
Da Luz e Rodrigo Brandão nos vocais, Professor M. Stéreo nas batidas e efeitos
e DJ PG nos scratchs. Se ser diferente é uma meta mamelosoundista eles seguem a
risca esse contrato cego. Poderia enquadrar algumas de suas letras como poesia
concreta ou uma disputa ZAP!. Usando os
versos: Festa, pelo direito de Luta; Luta, pelo direito de festa. Mas é
rap, em seu estado híbrido, afro-futurista, roots e contemporâneo ao mesmo
tempo.
Clique na capa e Vem que vem
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