Vou começar esse texto fazendo
uma viagem para o final dos anos 80 e minha opinião na época acerca de Ndee
Naldinho. “Um rapper novato que faz mais covers do que o próprio rap, escute o
refrão , A Lagartixa na Parede, é mais uma tradução exótica e parodiada da
original DJ Innovator do rapper americano Chubb Rock. A voz de Ndee também é meio forçosa e as bases
pouco criativas, já prontas.”
Enfim... obviamente não escrevi isso
na época. Até porque eu tinha 16 anos e estava formando ainda minha base de
opiniões. Mas serve para você (e eu) entendermos que as vezes a nossa mente
evolui ao passar dos anos e se livra de
preconceitos e radicalismos. Minha cabeça era mais fechada e o que eu admirava de
rap tinha que ter o mesmo estilo de NWA, Public Enemy, Ice T e Racionais, drogas, armas, crime, enfim era pura
falta de informação e bom senso de minha parte. E tem também a visão turvada de que , “se ele
lançou a lagartixa, o disco solo dele deve vir na mesma linha” e acabei nem
dando a merecida atenção. Mas hoje (re)executando o primeiro trabalho de Ndee
Naldinho chego a outra opinião.
Mas vamos falar primeiro um pouco
sobre o rapper que nasceu na Bahia mas foi criado no Jardim Miriam Zona Sul de São Paulo e depois Diadema. Sua história no rap tem um pouco das
equipes de baile black em São Paulo. Pois foi através desses bailes que ele
começou a se apresentar e a cantar. Em 1988 já fez uma estreia de responsa na
coletânea (histórica), O Som das Ruas, que saiu pela Chic Show. Na ocasião ainda
com o nome de Ndee Rap gravou as faixas; Rap de Arromba e o grande hit do LP a
Melô da Lagartixa.
Depois em 1991 lançou o primeiro
trampo solo pela TNT Records, intitulado Menos Um Irmão, Chega Disso, que o
blog dimiliduques deixa pra vocês. A produção ficou a cargo do renomado (mas
que naqueles anos estava em início de carreira) DJ Cuca. E na época novamente a
pecha de rapper sátira foi apontado no agora Ndee Naldinho. As letras ainda
estavam ganhando forma e naquele início de 1990 eram mais hedonistas e de certa
forma inocentes. Desse álbum a faixa que fez mais sucesso foi “E Essa Mulher?
De Quem É?” com uma letra mais suave, viajante, divertida o que acabou
obscurecendo a execução das outras faixas mais sérias. Outra que também foi
muito tocada nos bailes e nas rádios, a faixa título, a famosa e mais conhecida como "Puxa o Revolver".
Nas bases de algumas faixas se nota
samplers de raps dos anos oitenta e funks a misturar-se com
sintetizadores, teclados, baterias eletrônicas e sequenciadores. Outra coisa
interessante é o uso de frases de discos sertanejos (Leó Canhoto e Robertinho em E Essa Mulher de Quem É). Mais tarde ele usaria também de filmes nacionais antigos
como os de Mazzaropi (isso no disco Humanidade Selvagem de 1993). Minha opinião, e até hoje vejo desta forma, é que a voz de Naldinho
encontrava eco em similaridade com o rapper nova-iorquino Kurtis Blow. Um
vozeirão, lógico que com a devida entonação, acabou sendo um estilo próprio de
cantar. O legal é que ao longo de sua
discografia Ndee Naldinho ele foi eclético e pôs em suas gravações faixas remix, versões em instrumental, samba rocks e música romântica.
Mas Ndee Naldinho pode-se dizer
um dos soldados do rap que sofreu as agruras de altos e baixos e com muito
esforço chegou a general. Foi guerreiro e não se abateu na caminhada por seu
devido valor, gravando uma vasta discografia com 14 trabalhos. Som das Ruas
(1988), Menos Um Irmão Chega Disso (1991), Só Porque Sou Favelado (1992), Remix
(1993), Humanidade Selvagem (1993), Bem Vindo ao Hip Hop (1995), Você Tem Que
Acreditar (1997), Ao Vivo (1998), Apocalipse (1999), Preto do Gueto (2000), Ao
Vivo 2 (2001), O Povo da Periferia (2001), Nunca é Tarde Pra viver (2003) e
Remix 2 (2007).
Ao longo de sua carreira ele foi
amadurecendo e encontrando no gangsta rap sua verdadeira vertente, quem ouve
atualmente os discos dele (principalmente a partir de O Apocalipse - 1999 ),
consegue achar mínimos resquícios daquele rapper que gravou a “Melô da
Lagartixa”. Isso o tornou em alguns momentos carrancudo nas letras e os temas
quase sempre rimavam sobre o crime e a violência na periferia. Mas quando se
ouve Mina Firmeza do CD Preto do Gueto (2000) ou Povo da Periferia do CD
homônimo (2001) , se vê que no fundo ainda vive aquele jovem Naldinho. O importante
é ter hombridade para mudar, aceitar as mudanças e seguir em frente no seu propósito
de cantar rap no Brasil. Hoje ele é considerado e reconhecido por muitos
compatriotas, como um dos pionieors do rap, citado por exemplo por artistas do calibre de: Thaíde, Sampa Crew, Racionais MC’s, Xis,
Tribunal Popular, Sistema Negro e outros.
Clique na capa, é isso, chega disso...
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