O rap é uma das minhas paixões,
desde adolescente era o que eu gostava de escutar. Começando com RUN DMC, Biz
Markie, Whodini, Kool Moe Dee, depois a fase noventa com NWA, Public Enemy e
nessa mesma época o rap nacional com Racionais MC’s e Thaíde e DJ Hum. Através do rap foi quando me
aventurei a escrever algumas letras sobre os problemas de onde vivia, que variaram
das drogas , violência, polícia e desigualdade social. Eram tempos difíceis
(olha o Edi Rock aí), dinheiro minguado, emprego raro, o crime batendo na porta.
Mas também eram tempos de certa liberdade nas ruas, antigas brincadeiras de
polícia e ladrão, esconde-esconde, estreia nova cela. Época de descobertas,
beijar na boca, namorar, zuar na escola e conversar em volta da fogueira até
altas horas, pra mãe vir berrar seu nome te chamando pra entrar.
Aquela cena descrita num rap dos
Racionais “admirava os ladrão e os malandro mais velho” é realidade e bem a
cara da periferia naquela época. Futebol no campinho de trás, pipa no ar, os
maconheiros, os pés de pato (justiceiros) e os bailes blacks.
No meio do movimento rap eu tinha
a visão romântica de que não podia se “vender ao sistema”. A caminhada era
árdua e o tempo que fiquei mais envolvido com a coisa foi de 1988 a 1993. Me
enveredei pelos lados do samba, mas enxergava rap em tudo, Bezerra da Silva
para mim era uma espécie de cronista suburbano. Sempre dava um jeito de
misturar um rap com samba ou com algo que lembrava o hip hop. Então Jorge Ben ,
Originais do Samba, Branca Di Neve e outros samba rocks entravam aos poucos no
repertório. Quando colava algum amigo que era do rap nas rodas de samba fazia
questão de chamar e bolar um ritmo pro cara cantar em cima. Lembro que o Dimenó
e Marcelo Cicatriz do Alvos da Lei cantaram a música Bem Povão em cima do Na
Subida do Morro dos Originais do Samba com DJ e tudo fazendo scratch em cima, tirávamos
a maior onda. Fora os versos de Pânico na Zona Sul dos Racionais MC’s que eu
cantava de vez em quando.
Como eu já falei dos manos do Racionais
MC’s aqui, vou postar outro disco que fez parte de sua história. O LP coletânea
Consciência Black volume 1 onde gravaram a clássica Pânico na Zona Sul. Na
verdade o Racionais nessa época era o Mano Brown e Ice Blue da Zona Sul de São
Paulo. Na mesma coletânea gravaram a faixa Tempos Difíceis a dupla da Zona
Norte, Edi Rock e KL Jay. O encontro desses monstrões deu origem ao que é
reconhecido hoje como um dos melhores grupos de rap do Brasil, Racionais no ar!. O disco foi lançado em 1990 pela Zimbabwe Records
(em 1991 lançaram o volume 2). Foi ao lado das coletâneas Ousadia do Rap
(Kaskatas), O Som das Ruas (Chic Show) e Hip Hop Cultura de Rua (Eldorado) o
ponta pé inicial do rap nacional.
Na coletânea da Zimbabwe saíram além dos já
citados racionais, uma das primeiras mulheres na cena Sharylaine. Mas teve
também Street Dance , Criminal Master, Gran Master Rap Jr, MC Gregory e Frank
Frank. Repararam que a maioria dos nomes são em inglês? Era uma tendência na
época, já que o rap em que os MC’s se inspiravam era americano. As bases apesar
de simples, foram bem escolhidas e produzidas, já que na época era tudo
intuitivo e os equipamentos de poucos recursos tecnológicos. Sendo assim vale a
pena baixar , pois a coletânea é parte da história do rap nacional, nesse
caldeirão tem que constar também a Estação São Bento do Metrô, equipes de baile,
o break dance e os vinis.
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