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Som modelo três em um |
Lembro-me dos meus nove anos de idade e meu tio
João Galo, mais conhecido como "função", rolava na vitrola (daquelas
3 em 1...) os vinis e as suas fitas cassetes com sequências de alguns Dj´s, entre eles:
Chilão , Todynho, Gran Master Duda, Claudinho e outros menos conhecidos mas tão
bons quanto. A maioria das fitas era de balanço (hoje rap): Kurtis Blow,
Whodini, Kool Moe Dee, Mc Kooley C. Biz Markie , mas tinha algumas com
rasteirinhas (samba-rock): Franco, Sônia Santos, Jorge Ben, Samba 6 e Bebeto, melodias (que
são as românticas) e os floreados com Freddie Jackson, Ted Pendergrass, Barkays,
Betty Wright, Zapp e funk (Funk com maiúscula mesmo!): Earth, Wind and Fire, James
Brown, The Gap Band, Kool and the gang, KC and The Sunshine Band, etc.

O tempo passou, meu tio se foi e me deixou o gosto por boa
música e o exemplo da humildade e malandragem (no bom sentido). E esse post é
uma pequena homenagem a ele e a todos os "funções" da década de
80/90. Para quem não sabe "função" era um modo peculiar de se vestir,
falar e viver, seria hoje mais um "vida loka". O meu tio foi um dos
primeiros a usar o termo aqui na vila (Pedreira zona sul de São Paulo) por isso
seu apelido.
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Chineizinho clássico |
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Adidas marathon |
As calças além das de camurça e veludo podia ser as jeans da Ravage, Versatti, Delhi, Startup, Fiorucci, Wrangler, Fim do Mundo, Bruno Minelli, X-Ray, 2020, Benetton, Zoomp e Forum com o detalhe de quiçá serem colocadas nas barras um "corinho", podia ser do banco do busão ou de um sofá velho, fazendo assim uma boca de sino adaptada.

Poderia não ter grana dentro, só ser recheada de papel para fazer volume e colocar no bolso de trás da calça, mas uma carteira emborrachada ou de camurça, com o famoso "crec" (velcro) das marcas Cairê, Fico e OP, eram consideradas. Havia umas carteiras com desenhos de dragão, personagens de desenho e de filme usadas pelos adolescentes, função dificilmente usava essas.



Os funções não eram muito ligados aos jogos
de azar, gostavam mais de bater uma bola na várzea e depois do jogo rolava
aquela roda de samba regada a muita cerveja, bombeirinho, rabo de galo, maria
mole, conhaque e um "cabeça de nego" aceso para fazer a mente.
Os
modos de falar eram as gírias das ruas periféricas, por exemplo naquela época
idos de final dos anos 80 boné era bombeta, calça era beca, ônibus era busão,
trabalho era trampo, polícia era coxinha ou gambé, arma era ferro ou cano, cigarro de maconha era
baseado, bagulho ou fininho, cocaína era farinha, présa era fazer uma presença ou inteirar algo e algumas bem estranhas, por
exemplo para perguntar o nome da pessoa falavam; qual a sua graça? namorar com
alguém era "jogar" com alguém; "Tô jogando com aquela mina
lá" e ter proceder era ser fiel a um principio ou ter uma ideia para
trocar. A ginga era mais uma das peculiaridades do "função" parecia
que era algo que vinha sem que ele a controlasse, quando via já estava andando
com ginga, isso era um prato cheio para a polícia que conhecia esses detalhes e
julgava à revelia. Algumas tatuagens eram verdadeiros testamentos, três pingos
na mão era assaltante (ou 157), uma caveira tinha o significado de matador de
polícia e o famoso "amor só de mãe" quase sempre feito artesanalmente
dentro da cadeia com tinta nanquim e agulha de costura.
Uma parte dos
"função" era do mundo do crime ou ligados a ele, a ROTA e os
"pés de patos" (justiceiros) mataram muitos deles, tem um verso da
música Fórmula Mágica da Paz do Racionais Mc´s que diz "...o que melhorou
da função quem sobrou? sei lá, muito velório rolou de lá pra cá..." . A verdade é que o função era um jovem rebelde, romântico, boêmio, que queria seu pedaço do
bolo na sociedade, curtir, ter coisas boas e viver.
Mas era um desafio conseguir isso crescendo no meio dos malandros mais velhos, ouvindo e vivendo histórias do crime, vendo e sentindo na pele a injustiça policial e a desigualdade social. O espelho que tinham naquelas circunstâncias era a bandidagem e assim é até hoje. Eu ficava só observando, caçava lata e plástico para vender no ferro velho, Depois ia jogar com a bola de capotão no campinho de terra, valendo tubaína e e pão com "mortandela". Mudaram a moda, as gírias, as músicas, o mundo muda e o "função" como um camaleão malandro, se adapta de outras formas, desde o bicho grilo, maluco beleza, ladrão, malandro ao vida loka.
Mas era um desafio conseguir isso crescendo no meio dos malandros mais velhos, ouvindo e vivendo histórias do crime, vendo e sentindo na pele a injustiça policial e a desigualdade social. O espelho que tinham naquelas circunstâncias era a bandidagem e assim é até hoje. Eu ficava só observando, caçava lata e plástico para vender no ferro velho, Depois ia jogar com a bola de capotão no campinho de terra, valendo tubaína e e pão com "mortandela". Mudaram a moda, as gírias, as músicas, o mundo muda e o "função" como um camaleão malandro, se adapta de outras formas, desde o bicho grilo, maluco beleza, ladrão, malandro ao vida loka.
Abaixo uma coletânea com músicas dos artistas aqui citados, clique na fita K7 e baixe...
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