Certo dia tava rolando Relatos da
Invasão de fundo musical, a canção em questão era a Primeiro Ato. Aí me caiu a
ficha, puta produção legal esse instrumental, vou escutar o CD inteiro. Até aí
tudo bem, hoje é tranquilo você pode procurar no Google para download ou se der
mais sorte um ”Full Album” no youtube.
No meu caso eu já tinha a pasta perdida em meio as minhas dezenas/centenas de
gravações espalhadas em DVDs, HD, CDs, PC
e pen drive.
O grupo é da zona Norte , dos
bairros Jd. Nova Galvão e Jaçanã , esse último eternizado pelo samba Trem das
Onze dos grupo Demônios da Garoa e composto por Adoniran Barbosa. De lá também
conheço o time de várzea do Botafogo de Jaçanã, bem querido. O blog
dimiliduques deixa pra vocês o CD intitulado É o Gigante, lançado em 2007 pela
gravadora Equilíbrio (de propriedade de KL Jay), o grupo é formado pelos MC’s Thig, Negrinho e
DJ Pampa. Que começaram a trilhar o caminho do rap num festival da Revista Rap
Brasil onde chamou a atenção do DJ QAP (do grupo SP Funk) que prontamente ofereceu seu estúdio pros
caras gravarem.
O trampo é de responsa,
além da citada tem outra (outras!) que a instrumental é louca, fez sucesso estupendo
nas pistas e no rádio, chamada Jaçanã Picadilha (produzida por DJ Marco ex
Possemente Zulu). O legal é a levada quase coloquial, onde parece que o mano tá
falando numa gíria nervosa, é a malemolência da favela no modo de falar em prol
de cantar. E outro detalhe é que em algumas letras eles citam coisas como “pra
mim escutar as antiga” , citam Isley Brothers, samba rock e ainda assim
conseguem dar um cunho social. Achei respeitoso da parte deles e ao mesmo tempo
demonstra certo conhecimento musical da cultura dos bailes blacks e discos de
vinil. Voltando ao som, ouvi a música Sem Futuro, me perguntei quem produziu
isso? (Edi Rock tá). Um jazz usado como base, capricho, criatividade, bom gosto, e eu sem as informações da capa. Mas corri
atrás, é moleque, suspeitava que era coisa do KL Jay, mas o disco é uma produção de
várias mentes pensantes, tais como DJ QAP, Sagat, Dall, Edi Rock e DJ Marco. A
maioria das faixas entre 4 e 5 minutos, certeiras e objetivas. Como por exemplo
a letra de Abracadabra Plim , bem bolada, inteligente e sensível no seu
intimo., e a base meio que uma melodia no compasso. A faixa Com Quem Sou,
instrumental puxada para um samba rock com um baixão dando um clima soul, e a
letra apesar de conter certo humor lírico e um clima alto astral, fala da
realidade da favela. O clima de noite da musica Nu Mó Instinto, entrega as
inspirações “flash backeanas” musicais na produção do grupo.
Cara não tem como em algumas
passagens não se lembrar da década de 80 e suas ruas de terra batida. Também citando
nas letras coisas como; tênis Leqoc, “goma“ humilde, os “coxinha”, “sumariar”, os
“perreio” do dia a dia, em acordar as cinco e dar uma “ripa”, os “pirriu”
(guardas não oficiais de moto das periferias que acionam a sirene quando
passam) e usando instrumentais como na música Quem Me Ganha, não tem como. A
faixa Nossas Viagens parece sintetizar o estilo musical do grupo, a ginga, a letra,
a pegada e a base já se pode chamar de estilo Relatos da Invasão. A faixa que
dá titulo ao CD, É o Gigante, não é a melhor, mas tem sua beleza no que diz a
oratória otimista e na montagem paradoxal de uma instrumental melancólica.
Ontem ,Hoje e Amanhã outra faixa que usa um fundo rap samba-rock. A Ritmo Bandido antecedeu o estilo de alguns
instrumentais usados depois no disco solo do Edi Rock, com muito G-Funk de primeira nas bases. Não tinha também como
falar “da antiga” e não colocar uma melodia, na musica Adultério, a base lembra muito uma lenta dos Manhatans. Outra coisa interessante são as
participações dos rappers convidados, a maioria estão na correria para mostrar
seu trabalho, como Quadrilátero, Kleber, Gil, Sagat, Robson , Lucas, Ultima
Chance, LL Stilo Favela, Garotos da Periferia, Buli, Dall e Zal.
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