Nesse texto de hoje vou
falar um pouco de uma paixão que me traz momentos nostálgicos em minha mente. A
sensação emocionante e inexplicável quando pego um disco pirata na mão. Remete-me
a muitas coisas, uma delas que me vem na lembrança agora é os tempos em que eu
trabalhava de office –boy e com meu salariozinho contado conseguia me
equilibrar para comprar um disco. Mas não era qualquer disco! Era um pirata!
O
ano era final da década de 80 e início da de 90, o local que eu me lembro de
ir com frequência era uma galeria ali na Rua Benjamin Constant no centro de
São Paulo. O vendedor colocava faixa por faixa, só um trecho para atiçar os
ouvidos presentes, que eram inúmeros e por ordem de chegada. Chegava minha hora
de ser atendido e algumas vezes pegava uma bolacha igual a que os outros tinham
comprado, pois já havia escutado e tal. Outras vezes pedia o meu prato predileto,
que consistia em um LP pirata/coletânea que tivesse não só uns balanços mas ao
menos umas duas melodias. Os piratas com balanços e samba rocks no mesmo disco
eram raros, mas “de vez em nunca” surgiam.
As capas eram na maioria de
uma cor só, mas depois de um tempo apareceram muitos plays piratas que tinham algum desenho na
capa, eram desenhos as vezes simples e amadores, mas que davam uma identidade
crua para o vinil. Sem contar os discos de vinil coloridos: transparentes,
rosas, azuis, brancos, beges, esses as vezes vendiam só pelo fetiche desse
diferencial, pois a qualidade sonora não era lá muita coisa, eram as vezes até
mais pesados que os vinis normais. Até os vinis pretos, se você não ficasse
esperto vinham com algum pequeno defeito, raramente arranhados, mas com
deformações, tortos e até com partes da música mais graves.
Não gostava muito dos
discos que tinham o rótulo em branco, sem informação nenhuma, evitava ao
máximo, mas quando não tinha jeito e se escutasse uma música que eu queria
muito eu comprava também, depois anotava de caneta se fosse o caso.
Uma coisa que sempre me
intrigou era quem escolhia o repertório dos piratas? Será que tinha um pessoal
de equipe envolvido? Só sei que a seleção era ditada pelo que rolava nos
bailes, mas havia alguns que parecia conter um gosto todo pessoal da figura
secreta que escolheu. Posso dizer que o gosto desse misterioso DJ era na grande
maioria das vezes muito bom.
Depois de uns tempos até a
pirataria foi meio que industrializada, pois surgiram selos! Tinha a Ilegal
Records, Bala na Agulha , Black Time e algumas equipes de baile lançavam
coletâneas com nomes de seus programas, com capa e informações mais caprichadas.
Se os direitos autorais chegavam ou não para os gringos não sei. Como por
exemplo as coletâneas do Mancha, Five Star, Circuit Power, Dinamite e afins.
Outra coisa interessante era o nome escolhido para as coletâneas que pareciam
meio improvisados, como Black Time Rappers, Love Time, Sweet Love, Black Total
Special, Love of Love, Very Special, Black is Black e por aí vai.
Depois da metade da década
de 90, vieram os CDs, que não eram piratas, mas coletâneas, como Som na Caixa, Dinamite
Black Total, Bala na Agulha, Love Songs, Sweet Dreams, 100% Black, Swing
Brasil, Flash Rap...Algumas dessas coleções eram feitas quase que artesanalmente
e vendidas nas grandes galerias da rua 24 de Maio. A vantagem era que cabiam
umas 20 músicas em cada e os volumes iam do 01 ao que a mente criativa de quem
inventou a coletânea desse, o Swing Brasil por exemplo, de samba rock, teve uns
20 volumes.
O blog dimiliduques vai
colocar um LP pirata o qual eu gostei muito, foi feito o download do blog O Som da Massa do parceiro Celso dos Santos Pires o DJ Pirata, nesse link http://equipepiratadobom.blogspot.com.br. O LP é o Black
Time 1992 que tem vários pesos, entre eles um remix da musica Gladiator do
grupo 3rd Bass, Cookie Crew com um sampler conhecido e sinistro (da cantora Gwen McCrae - 90% Of Me Is You)
na The Powers of Positive Thinkind. Tem também o rapper D-Loc com uma que rolou nos bailes
a Regina The Teaser e as lindíssimas melodias de Jamm com The Games We Play e R.
Kelly com Honey Love.
Agradecendo desde
já pessoas como o DJ Pirata, que nos fazem reviver o passado e de graça
disponibilizam essas joias da black music. Em tempo, o final dessa historinha é
um drama, todos os meus vinis piratas eu perdi, infelizmente uma parte foi
roubada em casa e outra quando entrei numa equipe e o “sócio” fugiu e levou
todos os vinis com ele.
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