quinta-feira, 29 de setembro de 2016

Um caso de amor ilegal: LP Pirata


Nesse texto de hoje vou falar um pouco de uma paixão que me traz momentos nostálgicos em minha mente. A sensação emocionante e inexplicável quando pego um disco pirata na mão. Remete-me a muitas coisas, uma delas que me vem na lembrança agora é os tempos em que eu trabalhava de office –boy e com meu salariozinho contado conseguia me equilibrar para comprar um disco. Mas não era qualquer disco! Era um pirata! 

O ano era final da década de 80 e início da de 90, o local que eu me lembro de ir com frequência era uma galeria ali na Rua Benjamin Constant no centro de São Paulo. O vendedor colocava faixa por faixa, só um trecho para atiçar os ouvidos presentes, que eram inúmeros e por ordem de chegada. Chegava minha hora de ser atendido e algumas vezes pegava uma bolacha igual a que os outros tinham comprado, pois já havia escutado e tal. Outras vezes pedia o meu prato predileto, que consistia em um LP pirata/coletânea que tivesse não só uns balanços mas ao menos umas duas melodias. Os piratas com balanços e samba rocks no mesmo disco eram raros, mas “de vez em nunca” surgiam.

As capas eram na maioria de uma cor só, mas depois de um tempo apareceram muitos  plays piratas que tinham algum desenho na capa, eram desenhos as vezes simples e amadores, mas que davam uma identidade crua para o vinil. Sem contar os discos de vinil coloridos: transparentes, rosas, azuis, brancos, beges, esses as vezes vendiam só pelo fetiche desse diferencial, pois a qualidade sonora não era lá muita coisa, eram as vezes até mais pesados que os vinis normais. Até os vinis pretos, se você não ficasse esperto vinham com algum pequeno defeito, raramente arranhados, mas com deformações, tortos e até com partes da música mais graves.

Não gostava muito dos discos que tinham o rótulo em branco, sem informação nenhuma, evitava ao máximo, mas quando não tinha jeito e se escutasse uma música que eu queria muito eu comprava também, depois anotava de caneta se fosse o caso.

Uma coisa que sempre me intrigou era quem escolhia o repertório dos piratas? Será que tinha um pessoal de equipe envolvido? Só sei que a seleção era ditada pelo que rolava nos bailes, mas havia alguns que parecia conter um gosto todo pessoal da figura secreta que escolheu. Posso dizer que o gosto desse misterioso DJ era na grande maioria das vezes muito bom.

Depois de uns tempos até a pirataria foi meio que industrializada, pois surgiram selos! Tinha a Ilegal Records, Bala na Agulha , Black Time e algumas equipes de baile lançavam coletâneas com nomes de seus programas, com capa e informações mais caprichadas. Se os direitos autorais chegavam ou não para os gringos não sei. Como por exemplo as coletâneas do Mancha, Five Star, Circuit Power, Dinamite e afins. Outra coisa interessante era o nome escolhido para as coletâneas que pareciam meio improvisados, como Black Time Rappers, Love Time, Sweet Love, Black Total Special, Love of Love, Very Special, Black is Black e por aí vai.

Depois da metade da década de 90, vieram os CDs, que não eram piratas, mas coletâneas, como Som na Caixa, Dinamite Black Total, Bala na Agulha, Love Songs, Sweet Dreams, 100% Black, Swing Brasil, Flash Rap...Algumas dessas coleções eram feitas quase que artesanalmente e vendidas nas grandes galerias da rua 24 de Maio. A vantagem era que cabiam umas 20 músicas em cada e os volumes iam do 01 ao que a mente criativa de quem inventou a coletânea desse, o Swing Brasil por exemplo, de samba rock, teve uns 20 volumes.

O blog dimiliduques vai colocar um LP pirata o qual eu gostei muito, foi feito o download do blog O Som da Massa do parceiro  Celso dos Santos Pires o DJ Pirata, nesse link http://equipepiratadobom.blogspot.com.br. O LP é o Black Time 1992 que tem vários pesos, entre eles um remix da musica Gladiator do grupo 3rd Bass, Cookie Crew com um sampler conhecido e sinistro (da cantora Gwen McCrae - 90% Of Me Is You) na The Powers of Positive Thinkind. Tem também o rapper D-Loc com uma que rolou nos bailes a Regina The Teaser e as lindíssimas melodias de Jamm com The Games We Play e R. Kelly com  Honey Love. 

Agradecendo desde já pessoas como o DJ Pirata, que nos fazem reviver o passado e de graça disponibilizam essas joias da black music. Em tempo, o final dessa historinha é um drama, todos os meus vinis piratas eu perdi, infelizmente uma parte foi roubada em casa e outra quando entrei numa equipe e o “sócio” fugiu e levou todos os vinis com ele. 

Navegue nessa nau e click na capa







segunda-feira, 26 de setembro de 2016

Samba Rock direto e reto no dimiliduques


Outra vez falar de samba-rock? Lógico e olha que em breve poderá se tornar patrimônio imaterial da cidade de São Paulo. É um ritmo? é uma dança? É tudo isso e muito mais! É suingue é swing. Já foi chamado de Jovem Samba, Sambalanço e Suingue, desde o encontro das guitarras e baixos elétricos com os couros do samba de morro. A soul music americana e o funk também teve influência com seus arranjos, principalmente com Tim Maia e o movimento Black Rio. Nos bailes black de São Paulo a coisa fervilhava e a hora das rasteirinhas era plenamente esperada.
Nos anos 90 a coisa deu uma esfriada, somente guerreiros ainda alçavam sua bandeira como Bebeto, Branca Di Neve, Luiz Wagner, Bedeu e outros que continuavam na ativa mesmo nas torrentes ondas contra. Nos anos 2000 pode-se dizer que aconteceu um revival como a formação da banda Clube do Balanço e artistas como Simoninha, Max de Castro, Jair Oliveira...trazendo essa influencia soul e sambarockeira misturada com pitadas de MPB.

Blog pessoal tem dessas coisas, não é segredo que por aqui você encontrara vez por outra uns discos de rap , uns de samba rock, melodias românticas, além dos já tradicionais pagodes e sambas. Mas aqui no blog dimiliduques, tudo é feito com carinho e cuidado, como nessa coletânea com 34 músicas divididas em dois volumes  de Suingue e Samba Rock. Colocamos algumas novidades que vieram pelo ar e nos ARquivos amigos e outros suingues mais antigos que achamos nos baús da vida.

E saber que cada vez mais grupos, bandas e cantores abrem espaço no seu repertório para colocar um samba rock e outro é muito legal. Lógico que é pouco, mas um passo é melhor que nada. Não vou aqui levantar discussões do tipo: “tá na moda, por isso os produtores indicam ao artista colocar no set list”. Esse “tá na moda” então faz tempo hein...desde os anos 60 com Jorge Ben?, bailes black? Anos 70/80?. Deixa pra lá, o importante é que o samba-rock vem ao longo de sua história conquistando mais e mais seu espaço merecido. É passado de geração por geração, algo mais nítido no meio da negritude, mas não há segregação e sim acolhimento, musical e emocional!
Viva o samba rock e o suingue brasileiro!
http://www.mediafire.com/file/klmiv27i5a4fyro/Swing+%26+Samba+Rock+sele%C3%A7%C3%A3o+Dimiliduques.+vol+1++by+tchelo.rar

Abaixo lista de músicas do volume 1


http://www.mediafire.com/file/ac7zokx512esxvc/Swing+%26+Samba+Rock+sele%C3%A7%C3%A3o+Dimiliduques+vol+2+by+tchelo.rar
Abaixo lista de músicas do volume 2

Forró com pagode, forrogode.




Quando se fala de forrógode pode ser que tudo não passou de uma moda passageira, mas na verdade tem muito mais por trás. A confluência entre os ritmos passa por suas origens europeias e africanas e desagua no Brasil, numa música do povo. No livro Partido Alto de Nei Lopes, li que essa influência do forró no samba veio com os migrantes nordestinos para os morros e favelas do Rio de Janeiro. Numa época em que a população ainda se formava em aglomerações populacionais, por volta da década de 40. Anteriormente já havia muitos nordestinos que vieram na explosão demográfica na década de 20 quando o Rio de Janeiro era capital do Brasil,e por aqui fixaram residência. 


Um dos locais mais frequentados era a área central e dos portos na cidade do Rio de Janeiro, onde negros , nordestinos, marinheiros, estivadores conviviam. E a música muitas vezes refletia essa mistura, imagino a cena onde um vizinho, um amigo nordestino com sua sanfona e um sambista com seu pandeiro ou tamborim versavam e faziam música de improviso. No que se diz respeito aos versos de improviso, importante notar que na cultura nordestina tinha além do forró, xote, xaxado, lundu, baião, os ritmos coco e embolada que eram fortemente calcados em versos criados na hora. 


Um dos grandes da música nordestina, Luiz Gonzaga tinha alguns laços no morro de São Carlos no Rio, seu filho Gonzaguinha foi criado lá. Outros artistas na década de 50 deram continuidade a veia nordestina foram Dominguinhos que tempos depois participou de discos de muitos sambistas. E Jackson do Pandeiro, que só de carregar pandeiro no nome artístico os sambistas ficaram de olho, e volta e meia Jackson é lembrado em regravações e citações em letras de sambas. 


A mistura se dá na métrica, na divisão rítmica , nos temas das letras e principalmente na incorporação dos instrumentos como a sanfona, o triângulo e zabumba  misturados com surdo, tamborim, cavaco, já o pandeiro é um instrumento comum aos dois ritmos.


O termo forrogode é recente, da década de 80 e um dos primeiros a usar o nome e a gravar um trabalho mais voltado ao estilo que misturava samba e forró foi o cantor carioca Elson do Forrogode em 1987 com o lançamento do LP intitulado Forrogode. O próprio diz que a palavra forrogode foi sua criação e a ideia surgiu em suas andanças pelo Brasil e pelo fato de gostar muito dos dois ritmos. Mas podemos também considerar o coco uma das primeiras manifestações que tinham como influencia o samba e o forró, o próprio Bezerra da Silva antes de ser sambista, gravou os seus dois primeiros discos; o Rei do Coco I e II. O certo é que nos anos 80 muitos sambistas/pagodeiros em seus trabalhos solos colocavam um forró com pegada de pagode. Mas antes já tinha sambista fazendo essa mistura, é o caso de Tião Motorista em 1977 com a música Beira Rio e Clara Nunes gravou de Sivuca o forró Feira de Mangaio em 1978. O dimiliduques faz uma..uma não! duas! coletâneas de algumas dessas músicas, para ilustrar um pouco mais a conversa. 

Clique nas capas e Muito forró e muito samba...para todos...for all!


https://www.mediafire.com/view/b92kmz88293zr2k/Volume%201%20Forrogode.rar

Abaixo as musicas do volume 1



https://www.mediafire.com/view/y05q654crrp44o5/Volume%202%20Forrogode.rar

 Abaixo as musicas do volume 2