domingo, 3 de agosto de 2014

Consciência Black volume 1, um dos primórdios do rap nacional

O rap é uma das minhas paixões, desde adolescente era o que eu gostava de escutar. Começando com RUN DMC, Biz Markie, Whodini, Kool Moe Dee, depois a fase noventa com NWA, Public Enemy e nessa mesma época o rap nacional com Racionais MC’s e  Thaíde e DJ Hum. Através do rap foi quando me aventurei a escrever algumas letras sobre os problemas de onde vivia, que variaram das drogas , violência, polícia e desigualdade social. Eram tempos difíceis (olha o Edi Rock aí), dinheiro minguado, emprego raro, o crime batendo na porta. Mas também eram tempos de certa liberdade nas ruas, antigas brincadeiras de polícia e ladrão, esconde-esconde, estreia nova cela. Época de descobertas, beijar na boca, namorar, zuar na escola e conversar em volta da fogueira até altas horas, pra mãe vir berrar seu nome te chamando pra entrar.

Aquela cena descrita num rap dos Racionais “admirava os ladrão e os malandro mais velho” é realidade e bem a cara da periferia naquela época. Futebol no campinho de trás, pipa no ar, os maconheiros, os pés de pato (justiceiros) e os bailes blacks.

No meio do movimento rap eu tinha a visão romântica de que não podia se “vender ao sistema”. A caminhada era árdua e o tempo que fiquei mais envolvido com a coisa foi de 1988 a 1993. Me enveredei pelos lados do samba, mas enxergava rap em tudo, Bezerra da Silva para mim era uma espécie de cronista suburbano. Sempre dava um jeito de misturar um rap com samba ou com algo que lembrava o hip hop. Então Jorge Ben , Originais do Samba, Branca Di Neve e outros samba rocks entravam aos poucos no repertório. Quando colava algum amigo que era do rap nas rodas de samba fazia questão de chamar e bolar um ritmo pro cara cantar em cima. Lembro que o Dimenó e Marcelo Cicatriz do Alvos da Lei cantaram a música Bem Povão em cima do Na Subida do Morro dos Originais do Samba com DJ e tudo fazendo scratch em cima, tirávamos a maior onda. Fora os versos de Pânico na Zona Sul dos Racionais MC’s que eu cantava de vez em quando.

Como eu já falei dos manos do Racionais MC’s aqui, vou postar outro disco que fez parte de sua história. O LP coletânea Consciência Black volume 1 onde gravaram a clássica Pânico na Zona Sul. Na verdade o Racionais nessa época era o Mano Brown e Ice Blue da Zona Sul de São Paulo. Na mesma coletânea gravaram a faixa Tempos Difíceis a dupla da Zona Norte, Edi Rock e KL Jay. O encontro desses monstrões deu origem ao que é reconhecido hoje como um dos melhores grupos de rap do Brasil, Racionais no ar!.  O disco foi lançado em 1990 pela Zimbabwe Records (em 1991 lançaram o volume 2). Foi ao lado das coletâneas Ousadia do Rap (Kaskatas), O Som das Ruas (Chic Show) e Hip Hop Cultura de Rua (Eldorado) o ponta pé inicial do rap nacional. 

Na coletânea da Zimbabwe saíram além dos já citados racionais, uma das primeiras mulheres na cena Sharylaine. Mas teve também Street Dance , Criminal Master, Gran Master Rap Jr, MC Gregory e Frank Frank. Repararam que a maioria dos nomes são em inglês? Era uma tendência na época, já que o rap em que os MC’s se inspiravam era americano. As bases apesar de simples, foram bem escolhidas e produzidas, já que na época era tudo intuitivo e os equipamentos de poucos recursos tecnológicos. Sendo assim vale a pena baixar , pois a coletânea é parte da história do rap nacional, nesse caldeirão tem que constar também a Estação São Bento do Metrô, equipes de baile, o break dance e os vinis. 





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