O grupo Black’s n’ The Hood’s é
oriundo do lado Leste de São Paulo, do bairro da Vila Matilde. Formado pelos manos Careca
(KGL), Márcio (Hood Lee) e DJ W-Hood. O nome do grupo me soava estranho por
ser americanizado demais, sempre me remeteu
ao filme Boyz N’ The Hood, e deve ser inspirado nele mesmo, já que é um filme de 1991 e de
trilha sonora rap, com uma das primeiras aparições cinematográficas do Ice Cube
integrante do NWA. Olhando hoje, o nome era da hora, eu que na época era muito "radical" também.
A primeira gravação do grupo foi
na coletânea Vozes de Rua Vol. I de 1992, pela Kaskata's Records com a pesada, Quem É o Culpado, com participação dos Doctor’s MC’s. Dois anos depois gravaram o
LP solo; Os Piores Venenos Estão nas Menores Cobras pela M.A. Records/TNT Records com
produção de Mad Zoo e gravação/mixagem de DJ Raffa. Falando do trampo, é bem
louco, maioria de raps mais acelerados, estilo que teve seu auge em 1992 com o
rapper americano Mr Tung Twista. Mas para quem curtiu o movimento rap em São Paulo
na década de 90, era chamado de rap radical que depois também ganhou o nome de
bate cabeça. As produções bem ao estilo que todos os rappers paulistas sonhavam,
refrões pesados, G-funk rasteiro e com colagens de soul e jazz. Os vocais bem entrosados, levadas e flows
adequados. As letras eram o que mais se distanciavam dos “radicais” da época,
equilibraram um discurso social/político com um pouco (só um pouco) de humor despretensioso.
O blog dimiliduques deixa para
vocês esse clássico, ele fez muito barulho dentro do movimento rap,
não chegou a fazer um “sucesso” estrondoso, rolou mais nas rádios de programas
blacks como o Projeto Rap do Armando Martins (da equipe Circuit Power), mas ficou
marcado nos corações de quem tinha o rap na veia. Eu gosto muito da levada e instrumental
de Donos da Razão (Marcelo dos Santos/Márcio Martins Bonifacio). Vou dizer uma
curiosidade e deixar uma dúvida aqui, o compositor é Marcelo dos Santos, que eu
saiba esse é o nome verdadeiro do Xis que também é da Leste, seria ele mesmo?...
Aliás eu tenho uma composição com o Xis
chamada Lunático (gravada pelo rapper Jamal). E meu nome? Marcelo Santos Costa!
muito engraçada a coincidência quando fui assinar a liberação na Atração Fonográfica
e constava outro Marcelo e com sobrenome Santos ainda.
Outras que eu gosto são; Que Pais É Esse (Márcio
Martins Bonifacio/Jeferson Mendes) repare no finalzinho dela que groove! E a rápida
e empolgante Onde Você Vai? (Jeferson Mendes) a que mais rolou nas pistas e
rádios, com um sampler de um sintetizador ou órgão setentista, fazendo o
compasso para os vocais arrebentarem. A entrada de Para Aquele Pilantra
(Marcelo dos Santos) sampler de Loves Theme da Love Unlimited Oschestra e Barry
White com um discurso falado por cima e para em seguida entrar um instrumental
pesado totalmente oposto a introdução, simplesmente loucura musical. A faixa Desigualdade
(Márcio Martins Bonifacio/Andre) é um mosaico, com um pinguinho de Run DMC,
mudanças de batidas (de bases), scratchs, breques, montagens, participação de
Ugly MC do Filosofia de Rua e um efeito eletrônico que nas caixas JBL tremiam o
chão. Teoria (Márcio Martins Bonifacio) é a base mais festa e g-funk das
antigas, é uma leve resposta a música Mulheres Vulgares dos Racionais MC’s. Apesar que a musica Dama da Noite do Comando DMC é mais escancarada como resposta a Mulheres Vulgares.
Lembro de uma apresentação quando
eu ainda cantava rap com a banca do Organização Brutal, da zona Sul e cantamos no mesmo palco que eles.
Foi no Love Story da Vila Carrão, com o Dj Todynho. Tirando o lado que não
deixaram nosso DJ M Jay (Marcelo) arranhar os vinis para fazer scratchs, foi legal. O Boca Mc da nossa banca cantou com uma meia calça no rosto, doideira. Os
caras do Black’s tinham um puta domínio de palco e até o DJ ia na frente com
dois vinis na mão dançar o estilo “smurf dance”. Bons tempos em que o rap era a voz de toda uma geração politizada e que procurava ler e se informar para não se entregar ao sistema.
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