quarta-feira, 6 de julho de 2016

Repost: Ndee Naldinho com o nome cravado no hall dos guerreiros do rap



Vou começar esse texto fazendo uma viagem para o final dos anos 80 e minha opinião na época acerca de Ndee Naldinho. “Um rapper novato que faz mais covers do que o próprio rap, escute o refrão , A Lagartixa na Parede, é mais uma tradução exótica e parodiada da original DJ Innovator do rapper americano Chubb Rock. A voz  de Ndee também é meio forçosa e as bases pouco criativas, já prontas.” 

Enfim... obviamente não escrevi isso na época. Até porque eu tinha 16 anos e estava formando ainda minha base de opiniões. Mas serve para você (e eu) entendermos que as vezes a nossa mente evolui  ao passar dos anos e se livra de preconceitos e radicalismos. Minha cabeça era mais fechada e o que eu admirava de rap tinha que ter o mesmo estilo de NWA, Public Enemy, Ice T e Racionais, drogas, armas, crime, enfim era pura falta de informação e bom senso de minha parte. E tem também a visão turvada de que , “se ele lançou a lagartixa, o disco solo dele deve vir na mesma linha” e acabei nem dando a merecida atenção. Mas hoje (re)executando o primeiro trabalho de Ndee Naldinho chego a outra opinião. 

Mas vamos falar primeiro um pouco sobre o rapper que nasceu na Bahia mas foi criado no Jardim Miriam Zona Sul de São Paulo e depois Diadema. Sua história no rap tem um pouco das equipes de baile black em São Paulo. Pois foi através desses bailes que ele começou a se apresentar e a cantar. Em 1988 já fez uma estreia de responsa na coletânea (histórica), O Som das Ruas, que saiu pela Chic Show. Na ocasião ainda com o nome de Ndee Rap gravou as faixas; Rap de Arromba e o grande hit do LP a Melô da Lagartixa. 

Depois em 1991 lançou o primeiro trampo solo pela TNT Records, intitulado Menos Um Irmão, Chega Disso, que o blog dimiliduques deixa pra vocês. A produção ficou a cargo do renomado (mas que naqueles anos estava em início de carreira) DJ Cuca. E na época novamente a pecha de rapper sátira foi apontado no agora Ndee Naldinho. As letras ainda estavam ganhando forma e naquele início de 1990 eram mais hedonistas e de certa forma inocentes. Desse álbum a faixa que fez mais sucesso foi “E Essa Mulher? De Quem É?” com uma letra mais suave, viajante, divertida o que acabou obscurecendo a execução das outras faixas mais sérias. Outra que também foi muito tocada nos bailes e nas rádios, a faixa título, a famosa e mais conhecida como "Puxa o Revolver". 

Nas bases de algumas faixas se nota samplers de raps dos anos oitenta e funks a misturar-se com sintetizadores, teclados, baterias eletrônicas e sequenciadores. Outra coisa interessante é o uso de frases de discos sertanejos (Leó Canhoto e Robertinho em  E Essa Mulher de Quem É). Mais tarde ele usaria também de filmes nacionais antigos como os de Mazzaropi (isso no disco Humanidade Selvagem de 1993). Minha opinião, e até hoje vejo desta forma, é que a voz de Naldinho encontrava eco em similaridade com o rapper nova-iorquino Kurtis Blow. Um vozeirão, lógico que com a devida entonação, acabou sendo um estilo próprio de cantar.  O legal é que ao longo de sua discografia Ndee Naldinho ele foi eclético e pôs em suas gravações faixas remix, versões em  instrumental, samba rocks e música romântica. 

Mas Ndee Naldinho pode-se dizer um dos soldados do rap que sofreu as agruras de altos e baixos e com muito esforço chegou a general. Foi guerreiro e não se abateu na caminhada por seu devido valor, gravando uma vasta discografia com 14 trabalhos. Som das Ruas (1988), Menos Um Irmão Chega Disso (1991), Só Porque Sou Favelado (1992), Remix (1993), Humanidade Selvagem (1993), Bem Vindo ao Hip Hop (1995), Você Tem Que Acreditar (1997), Ao Vivo (1998), Apocalipse (1999), Preto do Gueto (2000), Ao Vivo 2 (2001), O Povo da Periferia (2001), Nunca é Tarde Pra viver (2003) e Remix 2 (2007).

Ao longo de sua carreira ele foi amadurecendo e encontrando no gangsta rap sua verdadeira vertente, quem ouve atualmente os discos dele (principalmente a partir de O Apocalipse - 1999 ), consegue achar mínimos resquícios daquele rapper que gravou a “Melô da Lagartixa”. Isso o tornou em alguns momentos carrancudo nas letras e os temas quase sempre rimavam sobre o crime e a violência na periferia. Mas quando se ouve Mina Firmeza do CD Preto do Gueto (2000) ou Povo da Periferia do CD homônimo (2001) , se vê que no fundo ainda vive aquele jovem Naldinho. O importante é ter hombridade para mudar, aceitar as mudanças e seguir em frente no seu propósito de cantar rap no Brasil. Hoje ele é considerado e reconhecido por muitos compatriotas, como um dos pionieors do rap, citado por exemplo por artistas do calibre de: Thaíde, Sampa Crew, Racionais MC’s, Xis, Tribunal Popular, Sistema Negro e outros.


Clique na capa, é isso, chega disso...








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