quarta-feira, 17 de setembro de 2014

Uma grande Família & Cia


Numa conversa informal com o Paulo Roberto Ferracini Junior (Juninho Ferracini) da comunidade Planeta do Samba (orkut e Facebook), nos pegamos a exaltar o pagode dos anos 90. E dentre os grupos lembrados, lamentamos a atenção dada aos grupos menores, menores não! menos conhecidos e divulgados. Alguns desses nem chegaram a gravar oficialmente, outros só gravaram um álbum ou uma faixa em festivais e desfizeram-se. Diversos ainda lançaram mais de um trabalho, fizeram um relativo sucesso e também sumiram. Se tornaram raros alguns discos e CDs desse pessoal e uma parte da história do pagode/samba esta  por aí viva esperando alguém que refaça esse caminho e documente isso para que não se perca para sempre. 

Através de contatos na internet você acaba achando pessoas como o Juninho, Marcelo de La Veiga do Bandeira do Samba, Almir Espindola, Cleber Pereira, Ademir Neres, Ivan, Marcos Antunes (Mortão), Robson Sá, Ricardinho Silveiro, Jr Belo, Hevandro Pereira, Marcio Diversão... (bom se for citar vou gastar várias linhas), mas são esses caras e outros mais, que indiretamente mantém a memória do pagode viva, nem que seja um lampejo. Nas palavras do próprio Juninho: “Eu me importo muito com grupos de pouca expressão, mais do que com os grandes grupos, tenho boas coisas de grupos conhecidos... mas prefiro os que são raros como grupo Amizade, Grupo Serra Samba etc e tal”.

E digo mais, nostalgia não é vergonha nenhuma,  quantas pessoas se emocionaram quando viram aquele vídeo antigo de pagode no Youtube ou quando baixaram um LP antigo de algum grupo querido?. Garanto que centenas, esses dias ouvi até uma provocação, a pessoa comentou numa postagem que o movimento do Pagode dos anos 90 foi maior que o da Jovem Guarda e do Rock Nacional. Mas tirando as devidas proporções tem o seu encanto e importância, querendo os críticos ou não, o pagode marcou seu terreno na música brasileira. 

Nem sempre quantidade foi sinônimo de qualidade, por isso sim, surgiam os aproveitadores, oportunistas, mas esses caiam logo, o ruim é que julgavam um por todos, a tal generalização foi péssima  para o pagode principalmente nos anos 90. Situo o ano porque há uma diferença entre o pagode feito nos anos 80 e o dos 90, o primeiro tem local de origem no Rio de Janeiro, é mais tradicional e influenciado por compositores ligados as escolas de samba e o segundo mesmo advindo do Rio foi formatado em São Paulo e enveredou pelo caminho pop e comercial. 

O Pagode dos anos 90 foi uma cena musical e sofreu do mesmo mal de qualquer outro, teve ápice de criatividade, fase da superexposição, teve a época da ressaca criativa. Houve a mistura com o Showbusiness onde os empresários prometiam e não cumpriam. Sem esquecer a fase das vacas gordas/magras, arroz de festa, fase de monotonia onde todo grupo parecia uma cópia do outro. Depois aconteceu a famosa peneira natural onde o talento contava mais que a aparência. Outra característica foi  a panela, onde só entravam os grandes e famosos, suprimindo a margem quem estava começando de maneira amadora.  Alguns produtores a procura do ouro das vendagens, faziam mistura de ritmos em seus arranjos. Teve a etapa do abandono, negação e a fase do revival. Mas mesmo com o orgulho ferido, os amantes do pagode e do samba seguem firmes pelo Brasil afora. 

Vamos falar hoje do grupo Família e Cia, que surgiu no final dos anos oitenta na baixada santista em São Paulo. A cidade tem samba na veia e alguns grupos que fizeram e fazem sucesso, saídos de lá são: Karametade, Tempero, Da Melhor Qualidade, Feitiço, Matéria Prima, Improviso, Don Benê e Banda Axé e até o Sombrinha que fez parte do Fundo de Quintal é de lá também. Mas enfim o grupo Família e Cia tem um swing contagiante com algumas pitadas de pagode e de MPB. Curiosidades; o grupo depois mudou o nome para Grupo Família tirando o Cia. E a música Ela Virou Sereia que fez muito sucesso, não está nesse trabalho, ela saiu no segundo LP gravado em 1995 na Paradoxx Music intitulado Tudo é Magia. Depois numa coletânea em 2002 da Paradoxx Music chamada 12 Sucessos do Pagode volume 2.

O blog dimiliduques posta o LP gravado pelo grupo em 1991, saiu com o título de Amigos pela gravadora  JWC. É um trabalho muito sólido, coerente, com arranjos de Maestro Jobam (in memorian) e Ivan Paulo. Os músicos participantes são: Fernando Merlino (teclados), Jobam (guitarra), Ivan Paulo (baixo), Téo Lima e Toca Martins (bateria), Gonzales (percussão), Baiano (surdo), Tião Mistura Fina (tantã), Paulinho (trumpete), Luizão Ramos (sax tenor), Zeca (trombone), Lyana , Elianete, Paulo Santana e Jorge Santana (coral).  As faixas são muito boas, destaco o coral bem trabalhado, arranjos e o vocalista Joãozinho mandando muito bem. Das músicas as minhas preferidas são o sambalanço Musa (conhecida como Carol composição de Douglas Periquito e Don Benê), B com A (Serginho e Wando) que tem uma pegada meio baiana, a canção Família (Alex) tem vocais bem feitos e é mais MPB, Raios do Meu Peito (Gastão Lamounier e Junior Mendes) outro swingaço. E mais... uma regravação de Tudo Era Lindo de Carlos Dafé e a faixa Alô Rapaziada (Serginho e Wando) que eu pensava que era de domínio público pois a letra é um momento de celebrar o aniversario de alguém e já ouvi em várias rodas de samba. A formação do grupo era: Joãozinho (vocal), Betinho (tantã), Gony (timba), Tatá (violão), Riva (cavaco), Dô (pandeiro) depois entraram Borracha (percussão) e José Panchito (bateria).

Agradecimentos especiais a Juninho Ferracini pelo link e foto das capas.


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